Com a pandemia e a crise econômica decorrente das medidas sanitárias adotadas pelas autoridades, surgiram novas oportunidades de negociação de dívidas junto aos bancos.
De fato, várias pesquisas atestam maior flexibilidade dos bancos em determinadas renegociações de dívidas.
Trazemos algumas destas pesquisas em comentários feitos no nosso perfil no Instagram – clique aqui para visitar.
Temos notado também pelos clientes que nos procuram que várias janelas de oportunidade se abriram, justamente por conta da crise.
E existe um motivo lógico para isso: a inadimplência cresceu, entramos numa crise econômica sem precedentes e tudo indica uma recessão que deve perdurar pelos próximos anos.
Com esse cenário, a inadimplência cresceu assustadoramente.
Só para termos uma ideia, neste ano de 2020 os bancos provisionaram o valor de 52 bilhões de reais para perdas com inadimplência, segundo dados do Banco Central.
Sim, este é o valor que os bancos estimam ter de prejuízo com clientes que não pagarão, ou que pagarão um valor menor das suas dívidas bancárias.
É natural portanto que os bancos criem facilidades para conseguir recuperar seus créditos num cenário onde muitas empresas estão descapitalizadas e muitas pessoas desempregadas.
Os grandes bancos não aceitam abrir mão de parte de seus lucros
Um outro fator ainda explica o fato de que os grandes bancos resistem, mesmo em um momento de grave crise, a abrir mão de parte dos seus lucros.
No Brasil, mais de 80% das operações de créditos e dos depósitos bancários estão concentradas nos 5 maiores bancos: Caixa, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander.
A concorrência é baixíssima e os bancos têm uma margem para impor condições muito grande.
Apesar da explosão de fintechs e bancos digitais, nos últimos 3 anos os números mostram que o oligopólio formado pelos 5 gigantes do mercado financeiro não tem dado muito espaço para quem está chegando.
Quando apenas algumas empresas controlam o mercado, acabam sofrendo pouca (ou nenhuma) pressão para melhorar seus produtos, diminuir seus preços e orientar seus serviços para atender às necessidades dos clientes.
É o que chamamos em Direito Concorrencial de “abuso da posição dominante”.
Como fica esse cenário diante da chegada do PIX e do Open Banking?
Tendo entrado em funcionamento no dia 16 de novembro, o novo sistema de pagamentos instantâneos, o PIX, promete mudar esse cenário concorrencial de serviços bancários.
A ferramenta de pagamentos instantâneos do Banco Central promete pagamentos efetuados de forma eletrônica, completados em até 10 segundos.
O PIX é uma ferramenta de pagamentos instantâneos, bem diferente do TED (que leva alguns minutos), do DOC (que cai no próximo dia útil) ou dos boletos bancários (que podem levar até 3 dias para serem compensados).
Ele também traz vantagens em relação aos pagamentos com cartões de débito e crédito, pois se promete taxas de operação bem mais baratas.
Inclusive, para pessoas físicas e MEIs, não terá custo algum, sendo totalmente gratuito o seu uso.
Se você quiser, por exemplo, pagar uma dívida com um amigo ou transferir dinheiro para um parente, basta entrar no aplicativo do seu banco, na área do PIX, e completar a operação sem nenhum custo.
É um sistema que funciona 7 dias por semana, 24 horas – e não apenas em horário comercial e em dias úteis.
Mudança de cenário para intermediários na cadeia de pagamento
O PIX chega para dificultar a vida dosintermediários na cadeia dos pagamentos tradicionais, como os de cartões de crédito e débito.
Todos os pagamentos serão efetuados pelo SPI, que é o sistema de pagamentos criado pelo Banco Central.
Isso cria um problema não só para os bancos, mas também para empresas tradicionais de pagamentos, como as bandeiras que conhecemos há muitos anos, e também para os provedores de pagamentos digitais, como o Mercado Pago e a PicPay.
As taxas cobradas em cada operação efetuada por cartão de débito ou crédito podem ser eliminadas com o PIX.
Uma dessas taxas é a de intercâmbio, que é destinada aos bancos.
Se o PIX realmente eliminar, ou diminuir substancialmente, os pagamentos de cartão, essa é uma importante fonte de receita das administradoras de cartão de crédito, que fazem parte do conglomerado dos grandes bancos, e que vai cair abruptamente.
O Open Banking também ameaça o domínio dos grandes bancos
Outra novidade que deve causar impacto nas receitas dos grandes bancos é o Open Banking.
O Open Banking é uma sistemática de compartilhamento de dados e informações dos usuários de serviços financeiros que será implementada no Brasil no início de 2021.
O princípio aqui é que os dados sobre o uso de serviços bancários não são dos bancos, mas dos usuários do serviço.
O cliente poderá compartilhar esses dados como quiser.
Dessa forma, haverá maior liberdade para buscar ofertas de outras instituições financeiras.
Por exemplo, o cliente, ao entrar no limite do cheque especial ou contrair uma outra dívida qualquer, poderá compartilhar seu histórico de operações e pesquisar uma oferta de um crédito mais barato de um concorrente.
O concorrente, diante desse histórico, terá melhores condições de se certificar do risco da operação com este cliente em particular e de fazer uma oferta mais adequada.
Isso implica que os bancos vão pensar duas vezes antes de negociar dívidas com seus clientes, pois a chance de perder o crédito para o concorrente fica bem maior com o sistema aberto do Open Banking.
E como fica a concorrência no mercado financeiro?
Tudo isso facilita um cenário de maior competitividade, principalmente se levarmos em conta o crescimento das fintechs e dos bancos digitais como Nubank, Banco Inter, Neon, Original, dentre vários outros.
Estamos muito próximos de um momento de grandes mudanças.
Por ora são apenas tendências e hipóteses, e devemos seguir observando.
O poder dos 5 maiores bancos é muito grande e não é possível prever que tipo de manobras de mercado podem ser feitas para manter suas vantagens concorrenciais.
Se vai ficar mais fácil negociar com bancos, conseguir créditos ou pesquisar para obter condições mais favoráveis, só o tempo vai dizer.