Não é novidade para ninguém que vivemos num cenário de mudanças tecnológicas aceleradas.
Isso foi tomando corpo a partir do desenvolvimento da Internet, há uns 25 anos atrás.
Nas duas últimas décadas esse desenvolvimento foi ainda mais acelerado.
No mercado bancário, esse movimento começou a ficar mais evidente nos últimos anos, com o internet banking, o uso de aplicativos e o surgimento das fintechs.
A aceleração da mudança ficou ainda mais evidente com a pandemia. O uso de tecnologia da informação praticamente invadiu setores onde ela ainda não se fazia muito presente.
Começam a aparecer sinais mais fortes de que tudo isso pode modificar o cenário da concorrência e dominação que os 5 maiores bancos (Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, CEF e Santander) têm no mercado de concessão de crédito em nosso país.
O Brasil sempre viveu uma tradição de baixa concorrência, mesmo quando havia um número maior de bancos. Os consumidores, principalmente pessoas físicas e pequenas empresas, não tinham opção a não ser se submeter aos grandes bancos.
E esse domínio se concentrou em poucos bancos nos últimos anos.
Agenda Hashtag do Banco Central
O Banco Central mantém já há algum tempo uma agenda de trabalho que se propõe a mudar as condições da concorrência e, consequentemente, melhorar as escolhas para os clientes de serviços bancários.
Esta iniciativa se desdobra em 5 eixos temáticos: Inclusão, Competitividade, Transparência, Educação e Sustentabilidade.
E de fato, alguns efeitos já podem ser observados no mercado.
Temos visto a participação dos 5 maiores bancos no mercado de concessão de crédito (Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica e Santander) cair nos últimos anos.
No fim de 2016, a participação destes bancos somava 70,4% do estoque de empréstimos e financiamentos. Segundo dados do Banco Central, em junho de 2021 esse número caiu para 67,7%.
Pode não parecer uma queda significativa, mas se pensarmos no volume de negócios desses bancos, isso representa uma cifra bastante considerável.
Lembrando que emprestar dinheiro é a principal fonte de receita do sistema bancário, e perder fatia neste mercado é algo bastante significativo.
A entrada das fintechs no mercado
Essas mudanças também são consequência dos novos entrantes: as fintechs.
As fintechs também estão submetidas à regulação do Banco Central, mas com regras um pouco menos rígidas do que as impostas aos bancos tradicionais.
Elas são fornecedoras de diversos serviços financeiros. Dentre estes, se destaca a concessão de crédito.
Ainda não vislumbramos uma grande ameaça aos grandes bancos, mas as fintechs já incomodam!
Várias delas trabalham com tarifa zero e não cobram anuidade nos cartões.
Por este motivo, grandes bancos estão revendo suas políticas tarifárias e a cobrança de anuidade nos cartões.
Mercado de investimentos
No lado dos investimentos também se observam mudanças.
Antes, só era possível fazer investimentos através de um grande banco, mas agora temos opções diversificadas, desde agentes autônomos até corretoras independentes.
Algumas dessas corretoras se destacaram e conseguiram desafiar os bancos tradicionais, como a XP Investimentos, que acabou se tornando uma gigante desse mercado.
Dessa forma, tanto emprestando dinheiro, quanto investindo o dinheiro dos clientes, os grandes bancos têm sentido a incômoda presença dos novos concorrentes.
Implementação do open banking
Outro fator que contribui para as mudanças aqui tratadas é o open banking, uma arquitetura que está em processo de implementação pelo Banco Central, ainda que com alguma resistência dos bancos.
A ideia é facilitar a circulação de dados financeiros das pessoas que concordarem com isso, para que mais competidores possam fazer oferta de crédito, aumentando a concorrência.
A tendência é que, com o avanço do open banking, melhore o acesso ao crédito em condições melhores.
Educação financeira
Mas tem um ponto fundamental, que se não for levado a sério, nada resolve, que é a consciência do consumo e a educação financeira do brasileiro.
De nada adianta ter boas oportunidades no mercado se as pessoas não conseguem identificá-las.
O brasileiro não tem a cultura de olhar o dinheiro de maneira objetiva. Tende a lidar com ele de uma forma muito emocional.
Daí a dificuldade de tantas pessoas com o dinheiro e com o endividamento. Tanto é assim que um dos pilares da Agenda Hashtag do Banco Central é a educação, que busca fazer o cidadão participar do mercado de forma consciente e cultivar o hábito de poupar, além de apostar na educação financeira como conteúdo programático para as escolas.